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terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Exigência

Não podia
Me esconder desajeitada
Ser a cabra-cega
Tropeçar em si
Rodopiar a seda solta
Pelo pátio

Não dei vexame na infância
Sem chance para ser desatenta

Exigência

Não podia
Me esconder desajeitada
Ser a cabra-cega
Tropeçar em si
Rodopiar a seda solta
Pelo pátio

Não dei vexame na infância
Sem chance para ser desatenta

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

(Un)necessary Knowledge

The odds of seeing three albino deer at once are one in seventy-nine billion,
yet one man in Boulder Junction, Wisconsin,
took a picture of three albino deer in the woods.

(Un)necessary Knowledge

The odds of seeing three albino deer at once are one in seventy-nine billion,
yet one man in Boulder Junction, Wisconsin,
took a picture of three albino deer in the woods.

Afinal

Destino que se cumpre em mim,

te querer é quando finalmente chego.

Afinal

Destino que se cumpre em mim,

te querer é quando finalmente chego.

Alma Titereira



Sofro com a falta de pressa da contrariedade.

Admiro muito aqueles que têm raiva em espícula, como um agudo de gráfico que imediatamente após o ápice começa a despencar; aqueles que reconhecem de imediato o descontentamento e precisamente em relação a que.

Eu, não. Eu sofro com o comprimento da curva de Gauss do desgosto.

Sinto que há coisas que não são como eu quero, mas nem sei exatamente quais. E meu aborrecimento é lento.
Fico até constrangida com o quanto sou mimada por mim mesma.

Hoje de manhã, por exemplo, sequer queria sair da cama. Não só aflita do cansaço de noites sem dormir, de festas dezembrinas seguidas por trabalho de manhã cedinho:
- era um estado de avesso.

Aliás, eu não sou do tipo que cansa junto com o corpo. Meu espírito é um titereiro. Fico bem energética, mesmo quando só é possível mover-me arrastando as pernas onde um dia habitaram as forças. Mas hoje de manhã, exemplo típico: acordei por dentro somente ao receber uma notícia que tornava os eventos mais similares ao que eu esperava. Antes, jazia num corpo mumificado. Sequer tinha revelado a foto da inércia pelo descontentamento. Depois do telefonema, impressionante: eu estava em inauguração, o cansaço foi exorcizado e o encosto da preguiça, expulso.

Acho espantoso como podem ser voláteis os estados de humor. Eles têm cores diferentes, gosto de frutas, cheiros variantes. Estações climáticas com diversas combinações. Posso ser quente, com pancadas de chuva no meu inverno matinal, seguida de primavera floral incandescente ao meio-dia e sol equatorial à noite. Vai saber? Eu acompanho, mas minhas previsões meteorológicas costumam ser precárias.

Até porque, sempre pode acontecer de ficar contrariada.
Aí fechou o tempo. Gris. Não é como uma chuva de verão. É o vento trazendo obscuridades, elas se aglomerando nas vistas, um tendéu de tanto negrume.

Só melhora quando me descortino a desforra.

Dá trabalho. Em geral, reservo como em uma receita de bolo, o meu estado contrário. Vou lidando com o molho. Deixo as claras empilhadas, estáticas, olhando pra mim. Quando sinto que a temperatura está mais amena, misturo as nuvenzinhas de ovo ao resto. Aí pronto: dissipam-se aumentando o volume e dando estrutura ao resto.

Claro que penso que os eventos vão-se revelar numa combinação que eu não esperava e que isso pode ser mágico; que esse avesso do desejo é só uma frustração; ou ainda: como é que ouso pensar que eu é que sei como é que tinha que ser?

Ô, arrogância.

Tudo isso eu digo pra mim.

Mas eu sou um mistério.

Só depois que me invento explicação é que fico melhor.

Alma Titereira



Sofro com a falta de pressa da contrariedade.

Admiro muito aqueles que têm raiva em espícula, como um agudo de gráfico que imediatamente após o ápice começa a despencar; aqueles que reconhecem de imediato o descontentamento e precisamente em relação a que.

Eu, não. Eu sofro com o comprimento da curva de Gauss do desgosto.

Sinto que há coisas que não são como eu quero, mas nem sei exatamente quais. E meu aborrecimento é lento.
Fico até constrangida com o quanto sou mimada por mim mesma.

Hoje de manhã, por exemplo, sequer queria sair da cama. Não só aflita do cansaço de noites sem dormir, de festas dezembrinas seguidas por trabalho de manhã cedinho:
- era um estado de avesso.

Aliás, eu não sou do tipo que cansa junto com o corpo. Meu espírito é um titereiro. Fico bem energética, mesmo quando só é possível mover-me arrastando as pernas onde um dia habitaram as forças. Mas hoje de manhã, exemplo típico: acordei por dentro somente ao receber uma notícia que tornava os eventos mais similares ao que eu esperava. Antes, jazia num corpo mumificado. Sequer tinha revelado a foto da inércia pelo descontentamento. Depois do telefonema, impressionante: eu estava em inauguração, o cansaço foi exorcizado e o encosto da preguiça, expulso.

Acho espantoso como podem ser voláteis os estados de humor. Eles têm cores diferentes, gosto de frutas, cheiros variantes. Estações climáticas com diversas combinações. Posso ser quente, com pancadas de chuva no meu inverno matinal, seguida de primavera floral incandescente ao meio-dia e sol equatorial à noite. Vai saber? Eu acompanho, mas minhas previsões meteorológicas costumam ser precárias.

Até porque, sempre pode acontecer de ficar contrariada.
Aí fechou o tempo. Gris. Não é como uma chuva de verão. É o vento trazendo obscuridades, elas se aglomerando nas vistas, um tendéu de tanto negrume.

Só melhora quando me descortino a desforra.

Dá trabalho. Em geral, reservo como em uma receita de bolo, o meu estado contrário. Vou lidando com o molho. Deixo as claras empilhadas, estáticas, olhando pra mim. Quando sinto que a temperatura está mais amena, misturo as nuvenzinhas de ovo ao resto. Aí pronto: dissipam-se aumentando o volume e dando estrutura ao resto.

Claro que penso que os eventos vão-se revelar numa combinação que eu não esperava e que isso pode ser mágico; que esse avesso do desejo é só uma frustração; ou ainda: como é que ouso pensar que eu é que sei como é que tinha que ser?

Ô, arrogância.

Tudo isso eu digo pra mim.

Mas eu sou um mistério.

Só depois que me invento explicação é que fico melhor.

domingo, 14 de dezembro de 2008

Nova sala da coragem

Ambicionar por ti é um aposento
Pintado furta-cor de volição
E nas paredes da vontade
Perfuram-se janelas de acreditar

Sobre o ventre do chão
Repousam os tapetes do desejo
E no tecido estofado
Derrama-se a estampa pornográfica

Tua língua é a chave
Entra pela porta da boca.

Nova sala da coragem

Ambicionar por ti é um aposento
Pintado furta-cor de volição
E nas paredes da vontade
Perfuram-se janelas de acreditar

Sobre o ventre do chão
Repousam os tapetes do desejo
E no tecido estofado
Derrama-se a estampa pornográfica

Tua língua é a chave
Entra pela porta da boca.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Donairosas

(é o oh do borogoblog,
eu acho lindo,
mas isso aqui virou meu querido diário)



Cor da bala de goma favorita
Pra eu nunca mais esquecer.
Mas eu esqueço mesmo,
E cônscia de que esquecer é atividade e não passividade,
Subscrevo-me
Que esquecer é modo de gostar mais quando lembro.

Mas
Tem mais,
Esqueci de cuidar do aceno,
Eu te-me deixei de lado,
desatendi a mim não te procurando
Esqueci o telefone
Vê eu com desajeito
Nem acredito que isso exista
Acredito, sim, é que eu tenha feito
Descaso com propósito secreto
Que fiz pra te-me manter longe
Eu reconheço isso agora,
Agora,
Sem medo de que ache nisso o pior
Desejando que veja nisso meu melhor
Minha cara-de-pau comigo mesma
Única esperança de não me afogar

(eu peço a mim),
Que eu tenha verdade comigo,
Que eu seja crua
Pra que eu veja quando me passe
Quando te ultrapasse na fuga covarde e surda
Como a de hoje de manhã.

Amo-te os olhos atentos:
São carbonos sensíveis.
Quero sim,
são estrondos necessários,
castigos,
litígios fundamentais.


Donairosas

(é o oh do borogoblog,
eu acho lindo,
mas isso aqui virou meu querido diário)



Cor da bala de goma favorita
Pra eu nunca mais esquecer.
Mas eu esqueço mesmo,
E cônscia de que esquecer é atividade e não passividade,
Subscrevo-me
Que esquecer é modo de gostar mais quando lembro.

Mas
Tem mais,
Esqueci de cuidar do aceno,
Eu te-me deixei de lado,
desatendi a mim não te procurando
Esqueci o telefone
Vê eu com desajeito
Nem acredito que isso exista
Acredito, sim, é que eu tenha feito
Descaso com propósito secreto
Que fiz pra te-me manter longe
Eu reconheço isso agora,
Agora,
Sem medo de que ache nisso o pior
Desejando que veja nisso meu melhor
Minha cara-de-pau comigo mesma
Única esperança de não me afogar

(eu peço a mim),
Que eu tenha verdade comigo,
Que eu seja crua
Pra que eu veja quando me passe
Quando te ultrapasse na fuga covarde e surda
Como a de hoje de manhã.

Amo-te os olhos atentos:
São carbonos sensíveis.
Quero sim,
são estrondos necessários,
castigos,
litígios fundamentais.


segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Ruim Necessária


Minha poesia
Um bando de traços em revoada
Passarada sem cobertura do rumo
Grupamento do palavreado pro forma
Com ausência de significado íntimo

Minha banalização da junção fonética
Aparelhamento vácuo de não querer dizer
Dispersão estética de termos expostos
Em moderna instalação da Bienal

Os obstáculos que com indelicadeza escrevo,
As coisas que interponho por inaptidão:
Buscando a melhor via expressiva,
Termino obliterando a vazão.

Não abriria a gaiola,
Não (ar)riscaria,
Não anotaria o juízo
ou profanaria a poesia

Não fosse o silêncio me faltando,
Não urgisse o feriado nacional de mim mesma,
Não carecesse tanto do ponto facultativo
que de outro modo não vêm.

Ruim Necessária


Minha poesia
Um bando de traços em revoada
Passarada sem cobertura do rumo
Grupamento do palavreado pro forma
Com ausência de significado íntimo

Minha banalização da junção fonética
Aparelhamento vácuo de não querer dizer
Dispersão estética de termos expostos
Em moderna instalação da Bienal

Os obstáculos que com indelicadeza escrevo,
As coisas que interponho por inaptidão:
Buscando a melhor via expressiva,
Termino obliterando a vazão.

Não abriria a gaiola,
Não (ar)riscaria,
Não anotaria o juízo
ou profanaria a poesia

Não fosse o silêncio me faltando,
Não urgisse o feriado nacional de mim mesma,
Não carecesse tanto do ponto facultativo
que de outro modo não vêm.

domingo, 7 de dezembro de 2008

Nova Metáfora Esportiva Sobre a Vida

Um amigo me explicou sobre o saque no jogo de tênis:

há o tipo que se posiciona sombrio à beira da quadra, acomoda o pé, respira, ajeita o grip da raquete, ajeita a empunhadura, pica a bolinha duas vezes exatamente, inclina-se, lança a bola ao alto, segura novamente, pica a bolinha duas vezes exatamente, inclina-se em reverência, lança a bola ao alto e atira a bolinha na rede. É claro.

Existe o tipo que pode até fazer os mesmos movimentos, mas sem a métrica mental: com graça, mas sem grandeza.
Ele apenas saca.

Esse é o tipo que pode fazer um ace.

Não que isso reduza o grau de dificuldade, que seja preciso tomar menos cuidado.
Isso não significa dispensar a tática, isso não desmerece a técnica.
Mas a própria concentração exige que a gente se diminua.
Não o apequenamento da desvalia, mas o ver-se pequeno como somos, para se ajudar, dar colo a si mesmo, apoiar-se não importa em que condição.

Manter-se atento e cuidadoso é saber-se pouco, frágil, precário, raro – insubstituível apenas para si mesmo.

Nova Metáfora Esportiva Sobre a Vida

Um amigo me explicou sobre o saque no jogo de tênis:

há o tipo que se posiciona sombrio à beira da quadra, acomoda o pé, respira, ajeita o grip da raquete, ajeita a empunhadura, pica a bolinha duas vezes exatamente, inclina-se, lança a bola ao alto, segura novamente, pica a bolinha duas vezes exatamente, inclina-se em reverência, lança a bola ao alto e atira a bolinha na rede. É claro.

Existe o tipo que pode até fazer os mesmos movimentos, mas sem a métrica mental: com graça, mas sem grandeza.
Ele apenas saca.

Esse é o tipo que pode fazer um ace.

Não que isso reduza o grau de dificuldade, que seja preciso tomar menos cuidado.
Isso não significa dispensar a tática, isso não desmerece a técnica.
Mas a própria concentração exige que a gente se diminua.
Não o apequenamento da desvalia, mas o ver-se pequeno como somos, para se ajudar, dar colo a si mesmo, apoiar-se não importa em que condição.

Manter-se atento e cuidadoso é saber-se pouco, frágil, precário, raro – insubstituível apenas para si mesmo.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Intro metida

Para que eu possa dizer o que vejo

Preciso-me

Despir de ameigar
Colocar-me nua e bem disposta.

Preciso-me

Do meu bom humor
Condição primária para ser atendida.

Preciso-me

Desprecisar
Não querer poder
E aquietar o santo de casa.

Preciso-me

Ser minha quietude
Minha laringe e minha epiglote
Criatura, a voz do corredor.

Preciso-me

Aguçada
Sem par, separada
Auto-sustentável
Uma acolhida móvel
Super-confiável.

Preciso-me

E para me ter
Me meto.

Intro metida

Para que eu possa dizer o que vejo

Preciso-me

Despir de ameigar
Colocar-me nua e bem disposta.

Preciso-me

Do meu bom humor
Condição primária para ser atendida.

Preciso-me

Desprecisar
Não querer poder
E aquietar o santo de casa.

Preciso-me

Ser minha quietude
Minha laringe e minha epiglote
Criatura, a voz do corredor.

Preciso-me

Aguçada
Sem par, separada
Auto-sustentável
Uma acolhida móvel
Super-confiável.

Preciso-me

E para me ter
Me meto.

Inter - Campeão de Tudo





Inter - Campeão de Tudo





terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Presente do Afirmativo: uma nova realidade verbal.

Uma promessa acende
É brisa em que me faço etérea
Não pela concretude;
Não pela eternidade grossa;
sino pelo frescor que tem o hoje
(pois é de cada imediato o sempre)

Não são meus cabelos ou meus olhos
É na alma a profissão de fé

Vestida de minha natureza,
Com minha crença inata, indizível,
Percebo a perfeição
O apuro com que é preparado o acontecimento
(não sei por quem ou para quê)
É onde me lanço:
Bebo do encanto de confiar

O que trago não é esperança
É atitude
(mesmo que seja a de espera)

Onde me incluo é meu desejo.

Agora, nunca passa da hora,
É o melhor momento.

Presente do Afirmativo: uma nova realidade verbal.

Uma promessa acende
É brisa em que me faço etérea
Não pela concretude;
Não pela eternidade grossa;
sino pelo frescor que tem o hoje
(pois é de cada imediato o sempre)

Não são meus cabelos ou meus olhos
É na alma a profissão de fé

Vestida de minha natureza,
Com minha crença inata, indizível,
Percebo a perfeição
O apuro com que é preparado o acontecimento
(não sei por quem ou para quê)
É onde me lanço:
Bebo do encanto de confiar

O que trago não é esperança
É atitude
(mesmo que seja a de espera)

Onde me incluo é meu desejo.

Agora, nunca passa da hora,
É o melhor momento.

A vida como ela é - para cada um de nós.



Em busca do eu-caleidoscópio.

Esta maravilha das maravilhas será lançada HOJE, na casa de cultura Mário Quintana, às 19h.
O livro estará sendo vendido a preço promocional: R$30,00.

Cartilha para viver melhor.

Saiba mais

A vida como ela é - para cada um de nós.



Em busca do eu-caleidoscópio.

Esta maravilha das maravilhas será lançada HOJE, na casa de cultura Mário Quintana, às 19h.
O livro estará sendo vendido a preço promocional: R$30,00.

Cartilha para viver melhor.

Saiba mais

sábado, 29 de novembro de 2008

Irmão de Miss

Disse que estava de irmão de miss. Achei graça:
- é usual sentir a graça com ele.
É companhia tão apetitosa.

Nós dois juntos:
pra mim,
é a prova de que intimidade pode ser a coisa mais aprazível da vida.
A leveza que ele empresta aos eventos tira o ene da tensão.
Mágico
Que honra é para mim,
faço caso,
minha demanda para que sigamos irmãos.

*nós ouvindo o Phonique
- bom demais esse alemão!

Irmão de Miss

Disse que estava de irmão de miss. Achei graça:
- é usual sentir a graça com ele.
É companhia tão apetitosa.

Nós dois juntos:
pra mim,
é a prova de que intimidade pode ser a coisa mais aprazível da vida.
A leveza que ele empresta aos eventos tira o ene da tensão.
Mágico
Que honra é para mim,
faço caso,
minha demanda para que sigamos irmãos.

*nós ouvindo o Phonique
- bom demais esse alemão!

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Carboxiterapia para Dor: no Consenso Mundial de Terapias com Anidro Carbônico Medicinal

Olha o preview da minha palestra, achei que ficou linda.
Veremos um pouco sobre como andam os colegas pelo mundo e os colegas verão um pouco de como andamos aqui na clínica.
A barca parte hoje de Porto Alegre e aporta lá em Sampa.
Mande suas boas vibrações para:
Cínthya Verri, Novotel Jaraguá, Sexta-feira, 28 de novembro de 2008, às 16h.
;)

Carboxiterapia para Dor: no Consenso Mundial de Terapias com Anidro Carbônico Medicinal

Olha o preview da minha palestra, achei que ficou linda.
Veremos um pouco sobre como andam os colegas pelo mundo e os colegas verão um pouco de como andamos aqui na clínica.
A barca parte hoje de Porto Alegre e aporta lá em Sampa.
Mande suas boas vibrações para:
Cínthya Verri, Novotel Jaraguá, Sexta-feira, 28 de novembro de 2008, às 16h.
;)

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Colcha All-sense



Fortune Cookie: The course of love never runs smooth.
(gei) arte
(sha) pessoa
柳界 (karyūkai ) flor e mundo de salgueiro

Depois de 3 anos que a aquarelei (vide foto da aquarela no varal acima)
Depois de voar na linda porcelana presenteada por outra vivente karyūkai.
A Geisha entra em minha vida com nome de Aya.



Minha mãe não me ensinou a ser mulher para um homem.
Ela tinha uma boneca quando menina a quem chamou Diana. Diana é a Artemis grega, deusa da lua e da caça. Meu nome é Cínthya - título em hebraico para a deusa da lua e da caça. E minha mãe não sabia disso.
O homem com quem ela se casou, meu pai, foi quem sugeriu meu nome Cínthya.
Ela escolheu o Carina que também me acompanha.
Vê que minha mãe me empresta doçura e carezza ao nome. Mas foi meu pai quem trouxe, quem me presenteou, quem deu palavra ao título da menina-diana de quem ela desejava ser mãe.
Durante os anos em que vivemos juntos, meu pai sinalizava e pedia muito pela minha doçura, pela meninice, pelos penteados e saias.
Minha mãe estimulava o conhecimento, exemplava as respostas prontas, a caligrafia primorosa, a elegância, a trotamundice.

Quando nasci, publicaram nota no jornal que nascera "a Panterinha dos Pampas, que vinha para ser a companheirinha da mãe". O publicado ainda alertava que meu pai e meus irmãos estariam de prontidão para 'cuidar' dos candidatos.
Imagino eu, bebê, recém-chegada ao samba do criolo doido, feijoada com pé de porco.
Fico feliz por me ser.

Enfim, não fui conduzida a ser mulher para um homem.

Recebi instrução Maiko da pior qualidade. Digo da pior qualidade e Maiko porque nasci Geiko ocidental. E isso não se escolhe.

Quando, na faculdade, conheci uma irmã Artemis é que aprendi. No tempo de doutorandas, estreando no hospital, nós fomos de feliz ajuda uma a outra quando nos reconheceram "Inadequadas para Mais". Foi-nos ofertado o título inédito nestes termos. Sobrávamos. Em nossa competência, em nossa agilidade, em nossa persistência. Inadequadas. Porque tínhamos muita informação, muito zelo, muita dedicação. Inadequadas para mais. Com nossas observações pertinentes, atentas, agudas. Pura inadequação.
E com ela é que aprendi que essa arte estendida a nossos amores era uma vocação.
Olha que linda ela pelo mundo:


Eu vejo acontecendo uma emancipação feminina às avessas, com destino à solitude. A tentativa triste de independência, com desvalia de ser junto, de atender, de servir a quem se ama, de somar ao diferente, de apaziguar-se na diligência. Diligens é latim e significa aquele que ama. É a disposição de não se economizar para o outro.
Eu teorizo que é uma compensação feita pelas filhas de pais queixosos que não tiveram coragem de se divorciar. Meninas que nunca tentaram, mas 'viver junto não dá'.
Ouço queixas sobre a falta de cuidado de parceiros desatentos, sem uma nesga de cavalheirismo ou de quentura masculina. Mas se isso não é oferecido, se o feminino clássico não é desenvolvido, não há convite. Ficam dois andrógenos se faltando. E culpar não resolve nada.

On the other hand
, eu me habilito em muito do que eu preciso - abro potes, troco lâmpadas, gás, programo qualquer equipamento eletrônico, troco pneus, resistência de chuveiro, spots de luz, faço furos com furadeira, monto móveis, dirijo. Uma vez instalei uma torneira.
Isso não tem rigorosamente nada que ver com o quanto preciso de um homem.

Eu canto Ella Fitzgerald - It´s so nice to have a man around the house. A house is not a home without a man around the house.

Enfim, vejo a tradição Geiko em mim ocidentalizada - afinal, não durmo com madeiras ao pescoço para proteger o penteado (gosto é do descabelamento) - porque eu me arborizo. Me transverso. Horizontalizo, é verdade. Sou um pampa. Cantarolo, desenho, embalo com violão, uma pitadinha no piano, arrisco na cozinha, costuro pele humana e tecidos de roupa, tenho conhecimento geral, entendo sarcasmo, falo três línguas, sou educada à mesa, não iria conhecer a sogra usando blusa transparente. Ah, sim, fiz medicina também, incursões e submersões em psiquiatria, em outras alquimias e por aí vou. Deixo fora o resto dada a preguiça e o desgosto pela síntese.
Também gosto de ser guarnição. Adoraria ser amora decorando festivamente a aparição de meu homem. Adoro: mas é raro homem verdadeiro e aparecido.

De qualquer modo, não tenho vergonha de ver em mim que, como as gueixas, tudo o que produzo e tudo no que me produzo é para eu-outro. Sem outro a quem amar, perco o sentido, não existo, não sou eu. A dureza nisso (o que também estrutura) é que não serve um qualquer.
E descubro, ao final do texto, que (tá bem) me gosto assim.


Esse texto é uma declaração de amor ao gênero,
uma ode à vocação Geiko multitalentosa e
o acolhimento da existência plenamente possível de uma Geisha Diana.
Meio espalhafatosa, mas geisha.